Bússola dos Tempos・220

Bússola dos Tempos・220

Questionar o “óbvio”

Keiko Takahashi


Quando transcendemos o tempo

O tempo passa muito rápido e a metade do ano de 2022 já faz parte do passado.

Como está o progresso do ano para vocês? Agora que meio ano já se passou, gostaria de convidá-los a fazer uma pausa e refletir sobre os passos dados até agora, fazer uma “sabedoria intermediária” (nakajie), para dar os passos do segundo semestre deste ano.

Neste mês, visando exercitar esse esforço, vamos observar uma das sensações que dominam nossas vidas.

“Hoje é igual a ontem, e amanhã será igual a hoje…”

Isso não poderia ser descrito como uma sensação cotidiana da qual muitos de nós teríamos pouca ou nenhuma consciência? Não seria exagero dizer que, nessas horas, a nossa realidade é a mesma de sempre, no fluir do tempo que sempre permanece o mesmo.

É por essa razão que, não raro, as pessoas ficam perplexas com as dificuldades e desafios que surgem num certo dia ou num certo momento. É como se isso caísse sobre nós, de repente.

Isso evidencia o quanto normalmente consideramos que a nossa rotina permanecerá da mesma forma. E isso não é somente em relação à passagem do tempo.

A vida está repleta de óbvio e natural

Nossas realidades e nossas vidas são compostas de tantas coisas que são tão óbvias e naturais que nem sequer temos consciência delas. Não seria exagero afirmar isso.

A primeira pessoa da família que deparamos quando nos levantamos de manhã, a maneira como interagimos com membros familiares, o ambiente de trabalho e a maneira como trabalhamos, o sentimento de como verificamos a predisposição desse ambiente, a forma de interação com os outros são realidades que se tornaram tão óbvias que pensamos “Isto é assim porque é assim”.

As Duas Portas que os participantes do Seminário Especial Um Dia Uma Lauda1 estudaram. Ao nascer no mundo de fenômeno (este mundo), a maioria de nós, sem perceber exatamente quando, absorve a perspectiva da visão de mundo da porta da esquerda – a visão materialista do ser humano e de mundo – como um modo de vida óbvio e natural.

Por exemplo, quando encontramos com alguém, vemos essa pessoa com a perspectiva da empresa ou entidade para a qual trabalha e do cargo ou título que ela possui. O mesmo acontece quando imediatamente medimos o valor das coisas atribuindo valor pecuniário a elas.

A maneira peculiar que cada indivíduo sente e percebe as situações tornou-se óbvia e natural sem ter consciência disso.

Podemos dizer que tudo isso é a totalidade das Três Correntes de Influência (linhagem, lugar e era) que absorvemos ao longo da nossa criação. O modo de pensar, o modo de vida, o senso comum, as premissas, os costumes e os valores que fluem dos pais e dos familiares, do lugar e do ramo pertencente, e da era. Essas Três Correntes de Influência estão naturalmente tão enraizadas em nossas mentes que nem estamos conscientes das mesmas.

A menos que algo aconteça para revolvê-las, o “óbvio” será o default (estado padrão) da nossa vida diária. Mas, se ficarmos soterrados no default em nossa forma de viver, será que podemos, de fato, dizer que se trata realmente das nossas próprias vidas?

O modo de vida que questiona o “óbvio”

Muitas coisas óbvias e naturais estão empilhadas ao nosso redor. Elas nos cercam como uma parede de tijolos e parecem nos separar do próprio mundo.

Para superar essa barreira e viver em contato com o mundo, a primeira coisa que precisamos fazer é questionar o “óbvio”.

Quão significativa seria a transformação proporcionada pela conversão do modo de vida em que respondemos automaticamente aos “óbvios” sem nenhum questionamento para um modo de vida em que questionamos essa diversidade de “óbvios”? É uma mudança que equivale a renascer como uma nova pessoa no decorrer da vida. Esse passo não é nada menos que o passo repleto de coragem de qualquer herói arrojado.

O fato de o Estudo da Alma instruir sobre as Três Correntes de Influência significa que o mesmo traz no seu âmago o modo de vida que questiona o “óbvio”.

Por que não tomamos este mês como um momento para observar os nossos próprios “óbvios” e questioná-los?

Notas do editor:

1. Seminário Especial Um Dia Uma Lauda

Este é um seminário visando compreender as sabedorias do Estudo da Alma utilizando os livros da Takahashi Sensei como material didático principal, e uma apostila como material didático complementar. Fazemos a leitura do livro todos os dias e nos empenhamos nas páginas da apostila com uma variedade de exercícios diário de 30 minutos visando aprofundar o entendimento do livro. O programa tem a duração total de 40 dias, dentre os quais em um dos dias da semana temos a sessão de estudo simultâneo e em quatro dos dias os exercícios ocorrem de forma individual.

2. Estudo da Alma

O Estudo da Alma trata de uma sistemática de teoria e prática para que o homem possa buscar um modo de viver que une as dimensões visível e invisível.  Em contraste com o “estudo dos fenômenos” representado pela ciência que se ocupa com a dimensão tangível, o “Estudo da Alma” abrange a dimensão material bem como uma dimensão que vai além, a dimensão da mente e da alma, de uma forma mais abrangente. Trata-se de um princípio que constatei a partir da minha própria análise em relação aos seres humanos e das observações das trajetórias de vida dos inúmeros indivíduos com quem interagi. Compreende o ser humano através de uma perspectiva total da alma, da mente e da realidade a fim de corresponder a quaisquer tipos de situação.  (Extraído da p.50 do livro Como Fazer Da Sua Vida A Melhor, versão original em japonês).