Bússola dos Tempos・219

Bússola dos Tempos・219

Cultivar a si mesmo

Keiko Takahashi


A temporada dos seminários

Todos os anos, de maio a junho, uma série de três seminários por faixa etária1 é realizada na verdejante área de Yatsugatake Inochi no Sato, no Japão, e neste ano será realizado também o Seminário Especial “Um Dia Uma Lauda”2 cuja duração é de dois meses.  Em outras palavras, este período pode ser descrito como a época áurea dos seminários.

A característica comum tanto dos seminários por faixa etária quanto do Seminário Especial “Um Dia Uma Lauda” é que eles permitem um tempo de estudo ainda mais compenetrado do que o habitual.

Como devemos perceber as situações conforme o Princípio Divino, responder aos chamados e executar continuamente o Ju-Hatsu-Shiki3? Como percebemos o presente, como buscamos o Projeto Ideal4 ali existente e como fazemos para nos aproximar ainda mais da concretização do mesmo? As atividades durante os seminários permitem obter respostas a estas questões através de vários exercícios, inclusive através de exemplos vivenciais.

O período para cultivar a si mesmo

E durante esta temporada dos seminários, o que trabalhamos invariavelmente e em especial é a autocontemplação e o aprimoramento próprio.

No passado, Buda, o fundador do budismo, fez uma comparação de nós, seres humanos em nosso estado natural, a uma mata selvagem e enfatizou a importância do cultivo.

Na mata selvagem onde as ervas daninhas crescem desregradamente e as rochas e as pedras estão dispersas, ainda que sementes valiosas sejam semeadas, elas serão obstruídas por aquelas ervas daninhas, rochas e pedras e não poderão desenvolver adequadamente.

Isso também é verdade para nós seres humanos.  Se deixarmos a mata selvagem do nosso interior no seu estado natural, mesmo que novas sementes de sabedoria sejam semeadas, nossa mente não terá a verdadeira bênção. Precisamos, portanto, cultivar a nós mesmos diariamente.

Somente quando rochas, pedras e as ervas daninhas, que crescem uma após a outra, são cuidadosamente removidas, a terra do nosso interior pode estar pronta para que as sementes sejam semeadas. Buda pensava dessa maneira e ensinou os discípulos a agir assim.

Desde a sua fundação, a GLA tem dado grande importância ao “cultivo de si mesmo”.

Para nós, “cultivar a si mesmo” significa, antes de mais nada, observar as nossas próprias mentes. Observamos como nossa mente funciona e o mecanismo com que ela cria a realidade. E, consideramos que o funcionamento bem como a dinâmica da mente não são fixos nem imutáveis, mas como algo que podem ser transformados.  Assim como usamos o arado ou a enxada na terra compactada e endurecida com o objetivo da aeração do solo visando facilitar o processo biológico incluindo a ação de microrganismos, escavamos nossas mentes que se tornaram compactadas e fechadas e promovemos novas formas de sentir, pensar e decidir.

Na contracapa do livro Nos Espaços Inexplorados Da Vida, em que são confiadas três sabedorias fundamentais do Estudo da Alma5: “Aspectos da Natureza”, “Aspectos do Ser Humano”  e “Palavras de Autonomia”, estão inscritas as palavras em latim que significam “aos que cultivam a si mesmos” o que serve de evidência de que o fundamento da nossa trajetória é o de cultivar a nós mesmos.

Extrair a verdadeira força essencial

Assim que o solo é lavrado, muitas vidas que estavam endurecidas e inacessíveis passam a ser propícias para novas vidas, e quando novas atividades de vida se iniciam, o local se transforma em um solo verdadeiramente fértil. Isto significa que o poder original do solo de nutrir vidas é reavivado.

E isso é o mesmo o que ocorre com as nossas mentes. Se lavrarmos a mata selvagem da mente humana, removermos as rochas e pedras que lá estavam, e removermos cuidadosamente as ervas daninhas nocivas, o poder que as nossas mentes originalmente possuem será reavivado.

A força de assumir qualquer situação sem se esquivar. A força de ouvir o chamado contido nos vários encontros e acontecimentos. A força de perceber cada uma das situações como Caos6 e de buscar e encontrar o Projeto Ideal nele confiado. E a força de criar um fluxo de energia em direção ao Projeto Ideal, alinhando o In-En (condições) em busca desse Projeto.

Nossa verdadeira força essencial – o poder armazenado em nossas almas – pode assim ser extraída.

Notas do editor:

1. Seminários por faixa etária

Assim como as quatro estações da primavera, verão, outono e inverno da natureza são insubstituíveis, as estações que compõem a vida – infância, adolescência, idade madura, e idade senil – todas elas irradiam uma luz preciosa incomparável.  Nascemos no mundo de fenômenos (este mundo) através do “portal do nascimento”, desfrutamos das estações da vida, e retornamos ao mundo das origens (o outro mundo) através do “portal da morte”, e nascemos neste mundo novamente quando se cumpre o tempo. Trata-se de uma nova perspectiva de vida – visão cíclica da vida – que não pode ser compreendida a partir da visão linear da vida que começa no nascimento e termina na morte.  Os seminários por faixa etária são seminários onde podemos aprender a arte de viver em cada uma destas estações da vida. Mais especificamente, realizamos: o Seminário Seinenjuku  (maio) dedicado aos jovens; o Seminário Conjunto Frontier College e Escola de Enfermagem da Mente (maio) dedicado aos adultos na linha de frente da sociedade; o Seminário Hoshin (maio) dedicado à geração senil; e o Seminário Kakehashi (julho – agosto) dedicado às crianças e seus pais.

2. Seminário Especial Um Dia Uma Lauda

Este é um seminário visando compreender as sabedorias do Estudo da Alma utilizando os livros da Takahashi Sensei como material didático principal, e uma apostila como material didático complementar. Fazemos a leitura do livro todos os dias e nos empenhamos nas páginas da apostila com uma variedade de exercícios diário de 30 minutos visando aprofundar o entendimento do livro. O programa tem a duração total de 40 dias, dentre os quais em um dos dias da semana temos a sessão de estudo simultâneo e em quatro dos dias os exercícios ocorrem de forma individual.

3. Ju-Hatsu-Shiki

Ju (recepção) significa a perceber os acontecimentos que surgem ao nosso redor (mundo exterior) em nosso interior, e o Hatsu (reação) é a interação do nosso mundo interior com o mundo exterior em relação ao que foi percebido.  Shiki é o termo budista que significa a realidade que o nosso olho físico enxerga no mundo exterior e inclui as pessoas, os acontecimentos e as circunstâncias. O ser humano, enquanto vivo neste mundo, continua acionando esta triangulação do Ju-Hatsu-Shiki incessantemente, e vai criando as realidades a sua volta mesmo que inconscientemente. (Extraído do Glossário do Princípio Divino 2012, disponível somente em japonês)

4. Projeto Ideal

O termo japonês aojashin, que significa “cópia azul” em português, refere-se, originalmente, a diagramas e desenhos que indicam esboços para construção de uma edificação, uma máquina etc. A partir daí, aojashin passou a se referir a projetos de todas as naturezas. Seria a realidade que buscamos realizar e aspiramos alcançar. No Estudo da Alma, o termo inclui também o significado de Ideia (forma ideal) oculta em todas as coisas, e da promessa feita com a Grande Existência, Deus. (Extraído do livro A Trajetória Áurea, capítulo 3)

5. Estudo da Alma

O Estudo da Alma trata de uma sistemática de teoria e prática para que o homem possa buscar um modo de viver que une as dimensões visível e invisível.  Em contraste com o “estudo dos fenômenos” representado pela ciência que se ocupa com a dimensão tangível, o “Estudo da Alma” abrange a dimensão material bem como uma dimensão que vai além, a dimensão da mente e da alma, de uma forma mais abrangente. Trata-se de um princípio que constatei a partir da minha própria análise em relação aos seres humanos e das observações das trajetórias de vida dos inúmeros indivíduos com quem interagi. Compreende o ser humano através de uma perspectiva total da alma, da mente e da realidade a fim de corresponder a quaisquer tipos de situação.  (Extraído da página 50 do livro Como Fazer Da Sua Vida A Melhor, versão original em japonês).

6. Caos

Caos é uma circunstância sem forma nem delineamento, sem resultado nem conclusão; indica uma situação caótica que oculta uma série de possibilidades e restrições, condições da luz e das trevas no seu interior. A origem do termo vem do deus Caos, o deus primordial da mitologia grega. Caos é um estado antes da criação do universo, que reúne elementos da luz e das trevas, uma situação que acolhe o estado do nada e simultaneamente todas as possibilidades. Além disso, o Caos conduz inevitavelmente a uma forma de vida que transcende a percepção de “bom ou ruim”.  (Extraído e sintetizado do livro Como Fazer da Sua Vida a Melhor, versão original em japonês).