Bússola dos Tempos・222

Bússola dos Tempos・222

Invocar o Eu valente interior

Keiko Takahashi


Como lidar com a sensação de desamparo

Na “era do impensável”, será inevitável que faremos face a realidades imprevisíveis das trevas.

Diante de resultados negativos inesperados, ou situações mais graves do que o esperado, de obstáculos que não melhoram não importa o que se faça, podemos ficar sem escolha a não ser ficarmos imobilizados. Podemos até pensar que o mundo inteiro esteja sendo tragado por um fluxo das trevas.

Será que nós, seres humanos, não experimentamos uma amarga sensação de desamparo em tais momentos?

Murmuramos palavras do tipo:
“Não consigo fazer mais nada com as minhas próprias mãos.”
“Mesmo que eu me dedique ao máximo, não vou poder resolver.”

E esses murmúrios não são nada incomuns.

Quando ficamos prestes a ser engolidos pela força gravitacional da situação das trevas diante de nós ou quando estamos à mercê das grandes mudanças dos tempos e da sociedade como folhas flutuando na superfície da água, sentimos que há muito pouco o que podemos fazer.

Todavia, mesmo quando você está tomado por essa sensação de desamparo, existe algo que realmente gostaria que se lembrasse.  Este mês, gostaria de abordar sobre esse tema.

Potencial do ser humano que não pode ser esquecido

Mesmo que estejamos pensando “não tenho forças, não posso fazer nada”, há um “Eu valente” escondido dentro de nós que assume e supera qualquer situação que fazemos face. 

O “valente interior” pode ser avistado porque compreendemos que toda existência humana é um ser de “alma”.

Não estamos vivendo apenas esta vida. Cada um de nós já vivenciou muitas outras vidas antes de viver a vida que vive agora. O nosso Eu verdadeiro armazena no interior a sabedoria que aprendeu junto aos vários encontros e eventos vividos em vidas anteriores.

Para nós, a vida é, portanto, um local de aventura onde mergulhamos em busca de novas experiências.

Este mundo é o Nindo1, onde suportar sofrimentos é um pré-requisito, e não somos nada mais que “aventureiros” conscientes de que nasceríamos na “era do impensável”, onde tudo pode acontecer. No interior de todos nós, sem exceção, oculta-se um Eu valente que é “aventureiro”.

E somos existências que, através das nossas vidas, buscamos nossas próprias aspirações gravadas profundamente, e tentamos cumprir nosso propósito e missão de vida. Isso significa que somos ainda um Eu valente com o perfil de “explorador”.

Para realizar aquela aspiração, estamos dispostos a cultivar o próprio mundo interior e a transformar a nós mesmos. Desfazer-se de maneiras familiares de fazer as coisas, ou do modo de vida que se tornou óbvio, e substituí-las por algo novo. À espreita em nosso interior somos também um Eu valente com o perfil de “cultivador” que continua renovando a própria mente.

Além disso, encontra-se latente no nosso interior o Eu valente que é “mestre da Lei de In-En-Kaho”, a lei que rege a criação de todas as realidades do mundo.

Invocar o Eu valente interior

“Sou apenas um ser desamparado sem muito poder…”

Diante de você, pode estar repleta de realidades que o fazem pensar assim.

No entanto, se pensarmos bem, existe um valente sem paralelo no interior de todos nós, um “aventureiro” que não é derrotado pelo medo, um “explorador” que continua em busca da missão da sua vida, um “cultivador” que está disposto a mudar a si mesmo, e um “mestre da lei” que segue o princípio divino à risca. Não seria um desperdício deixar a existência do Eu valente assim como está, intocado?

Tudo que precisamos é invocar o “valente interior”. Invocar orando do fundo do coração, do genuíno sentimento “que o valente do meu interior se manifeste”. E continuar a dar e acumular os passos persistentes, um a um.  Até que então, certamente, o “valente interior” despertará. Através do esforço diário e constante, o valente começará a assumir contornos firmes, a se levantar e a se mover. O valente com efeito se manifestará no seu perfil.

Notas do editor:

1. Nindo

As coisas raramente são conduzidas como desejamos, e a realidade está sempre repleta de provações e injustiças. “Utilizei a nomenclatura budista para descrever que este mundo é o Nindo, o fato de que este mundo não é o paraíso.” No ideograma japonês Nindo significa literalmente um lugar onde se vive com uma lâmina sobre a mente, um lugar onde temos que suportar. Viver no Nindo significa que devemos aceitar o que é doloroso e insuportável.
(Extraído página 58 do livro A Razão Pela Qual Você Nasceu, versão original em japonês)

2. In-En-Kaho

A sabedoria In-En-Kaho trata-se de uma lei de causa e efeito. Todos os fenômenos são vistos como o resultado (Kaho) de uma causa original (In) combinada com as condições (En). Em outras palavras, compreendemos o fluxo da energia que governam a criação e a destruição de tudo que existe no mundo através desses três núcleos. Não há nada neste mundo dos fenômenos que se desvie da lei da causa e efeito. Tudo, e toda a realidade é o resultado (Kaho) da combinação da causa (In) e condições (En).
(Extraído e sintetizado da p.190-191 do livro O modo de vida chamado a Doutrina da Alma, versão original em japonês)