Bússola dos Tempos・214

Bússola dos Tempos・214

Viver o caminho sublime

Keiko Takahashi


O modo de vida sem julgamentos

Feliz Ano Novo!

Estamos adentrando no novo ano depois de dois anos à mercê da pandemia da Covid-19. Como vocês estão celebrando a virada do ano?

No Japão, o número de novas infecções caiu drasticamente desde setembro do ano passado, de modo que no início de outubro, quando o estado de emergência foi suspenso, apenas algumas dezenas eram infectadas em Tóquio, e cerca de 200 em todo o país. Além disso, desde o início de novembro, a situação tornou-se ainda mais estável, com apenas um dígito de infectados por dia em Tóquio, e não era incomum ter menos de 100 infectados por dia no país inteiro.

Embora houvesse receios de que o aumento do fluxo de pessoas fosse conduzir a um aumento no número de infecções, o número de infectados permaneceu reduzido em dezembro.

Por outro lado, obviamente, o surgimento da variante ômicron que aparenta ser potencialmente mais infecciosa que a delta, a variante que causou uma grande onda de infecções, tem colocado o mundo todo em alerta máximo.

A esperança é que a virulência da nova infecção da Covid-19 se enfraqueça, e se estabeleça ao nível da gripe influenza o mais rápido possível, mas vivemos o nindo1, onde as coisas não acontecem como queremos.

Este é um mundo imprevisível, onde não sabemos o que irá acontecer, e onde tudo é possível acontecer. O mundo em que vivemos é o mais inadequado para julgamentos do tipo “Agora está tudo bem, está tranquilo” “Não dá mais. Está tudo acabado”.

E é por isso mesmo que precisamos enfrentar o mundo com um modo de viver sem julgamentos.

Viver o caminho sublime

E a regra inexorável de viver em tal mundo é ter o Princípio Divino como eixo acima de tudo. Viver de acordo com o Princípio Divino e fundamentado nesse Princípio. Isso não deixa de representar a forma de viver o caminho sublime no nindo.

Não importa qual a realidade que venha ao nosso encontro, qualquer que seja a circunstância que estejamos fazendo face, nós a aceitamos como Caos2. E esse Caos não acontece conosco apenas por acaso.

O Caos (realidade) vem em nossa direção, está canalizado para nós mesmos. Portanto, precisamos elevar ao máximo a sensibilidade da inevitabilidade para enfrentar esse Caos, tanto quanto possível. Com esse sentimento, vamos fazer face ao Caos novamente.

Qualquer que seja o Caos, existe um Projeto Ideal3 ali a ser concretizado. É por isso que, qualquer que seja a nossa situação atual, podemos traçar o Projeto Ideal do futuro que realmente objetivamos, bem como podemos buscar a Trajetória Áurea, a melhor maneira de chegar lá.

E a chave para atrair o melhor caminho para nós mesmos depende de como nos alinhamos com o Princípio Divino e como ressoamos com as leis do Universo e da natureza. Trata-se de verificar o nosso próprio Ju-Hatsu-Shiki4 e corrigi-lo, ao mesmo tempo que continuamos a “agir”.

Existem algumas coisas que realmente não podemos fazer, não importa o quanto desejarmos. Por exemplo, mesmo querendo mudar a realidade à nossa frente imediatamente, isso é “algo que realmente não conseguimos fazer”. Às vezes pensamos “isso poderia ser assim”, mas há realidades que não podem ser alteradas imediamente.

Tratamos de “agir” com o pensamento “o que podemos fazer mas ainda não fizemos?”, concentrar no que precisamos fazer agora, ao invés de nos distrair com o que não conseguimos fazer.

Abrir a porta da esperança

À medida que acumulamos nosso “agir” acima mencionado, trazendo nossas ações em ressonância com o Princípio Divino, o caminho que tomamos certamente armazenará luz.

Pois hoje mais do que ontem, e amanhã mais do que hoje, nosso caminho nos conduzirá mais próximos do melhor caminho. Não é essa a maior esperança acima de tudo?

Podemos seguir adiante. Podemos viver com uma maior sensibilidade da inevitabilidade. Cada Projeto Ideal que nos foi confiado neste novo ano pode ser conduzido mais próximo da realização, um passo de cada vez.

Desejo-lhes sinceramente que todos os dias desse novo ano sejam edificantes.

Notas do editor:

1. Nindo

As coisas raramente são conduzidas como desejamos, e a realidade está sempre repleta de provações e injustiças. “Utilizei a nomenclatura budista para descrever que este mundo é o Nindo, o fato de que este mundo não é o paraíso.” No ideograma japonês Nindo significa literalmente um lugar onde se vive com uma lâmina no coração, um lugar onde temos que suportar. Viver no Nindo significa que devemos aceitar as dificuldades e o que é insuportável.
(Excerto do livro A Razão Pela Qual Você Nasceu)

2. Caos

Caos é uma circunstância sem forma nem delineamento, sem resultado nem conclusão; indica uma situação caótica que oculta uma série de possibilidades e restrições, condições da luz e das trevas no seu interior. A origem do termo vem do deus Caos, o deus primordial da mitologia grega. Caos é um estado antes da criação do universo, que reúne elementos da luz e das trevas, uma situação que acolhe o estado do nada e simultaneamente todas as possibilidade. Além disso, o Caos conduz inevitavelmente a uma forma de vida que transcende a percepção de “bom ou ruim”.
(Extraído e sintetizado do livro Como Fazer da Sua Vida a Melhor).

3. Projeto Ideal

O termo japonês aojashin, que significa “cópia azul” em português, refere-se, originalmente, a diagramas e desenhos que indicam esboços para construção de uma edificação, uma máquina etc. A partir daí, aojashin passou a se referir a projetos de todas as naturezas. Seria a realidade que buscamos realizar e aspiramos alcançar. No Estudo da Alma, o termo inclui também o significado de Ideia (forma ideal) oculta em todas as coisas, e da promessa feita com a Grande Existência, Deus.
(Extraído do livro A Trajetória Áurea, capítulo 3)

4. Ju-Hatsu-Shiki

Ju (recepção) significa a perceber os acontecimentos que surgem ao nosso redor (mundo exterior) em nosso interior, e o Hatsu (reação) é a interação do nosso mundo interior com o mundo exterior em relação ao que foi percebido. Shiki é o termo budista que significa a realidade que o nosso olho físico enxerga no mundo exterior e inclui as pessoas, os acontecimentos e as circunstâncias. O ser humano, enquanto vivo neste mundo, continua acionando esta triangulação do Ju-Hatsu-Shiki incessantemente, e vai criando as realidades a sua volta mesmo que inconscientemente. (Extraído do Glossário do Princípio Divino 2012, disponível somente em japonês)