Bússola dos Tempos・239

Bússola dos Tempos・239

Revelar o potencial latente

Keiko Takahashi


Trazer à tona todo o potencial

Um mês já se passou desde o início do novo ano, e o perfil do ano está gradualmente começando a se delinear. O terremoto da Península de Noto no dia do Ano Novo e o acidente aéreo do dia seguinte deixaram claro que a era do “impensável” continua.

Vivemos no Nindo1 onde não sabemos o que pode acontecer, e não é de se admirar com as surpresas. O Nindo é um lugar onde somos forçados a nos sujeitar. Todos nós que vivemos nesse mundo severo não podemos evitar enfrentar as provações.

O que precisamos fazer nessas condições é mobilizar plenamente o potencial do ser humano.

O poder do qual normalmente temos consciência é apenas a ponta do iceberg, por assim dizer, a parte do iceberg que está acima da superfície do mar. Mas o verdadeiro potencial que temos é a força de todo o iceberg, incluindo a parte abaixo da superfície do mar. Em outras palavras, temos de extrair o potencial latente, o grande potencial do qual normalmente não temos consciência ou que não sentimos.

O potencial humano normalmente visível é uma parte pequena do todo, como a ponta de um iceberg, e a maior parte permanece oculta.

Poder da intuição e conhecimento tácito

O que o potencial latente significa para nós? As duas primeiras pistas desse potencial são a intuição (percepção) e o conhecimento tácito.

Intuição refere-se à capacidade de captar a essência das coisas de forma direta e instantânea, sem depender de raciocínio lógico. É a capacidade de um excelente jogador de xadrez japonês shogi de ler, em um instante, cem movimentos à frente, ou a capacidade de extrair instantaneamente as informações necessárias do mar da memória e tomar uma decisão em um momento decisivo.

Muitas pessoas podem pensar: “Apenas um número limitado de pessoas tem essa capacidade”. Mas, na verdade, todos nós temos a força da intuição. Para nós, a “primeira impressão” que usamos no dia a dia é exatamente o poder da intuição. No entanto, a “primeira impressão” pode estar errada. Portanto, é necessário persistir em purificar e alinhar nossa consciência para que nossa intuição não esteja distorcida pelo viés da nossa consciência. Para maximizar o potencial que nós, seres humanos, temos, é essencial combinar esse poder da intuição com o poder da lógica.

Outro tipo de potencial é o conhecimento tácito. O conhecimento tácito refere-se ao conhecimento que se baseia na experiência pessoal e no pressentimento e que não pode ser facilmente expresso em palavras.

Por exemplo, é difícil explicar em palavras como usar o hashi ou como andar de bicicleta, mas depois de aprender a usá-los, não esquecemos mais.

O mesmo se verifica com a técnica dos artesãos, por exemplo, na preparação de trabalhos em metal, construção e culinária. Os artesãos que se tornaram mestres de fato acumularam uma grande carga de conhecimento experimental após anos de treinamento. Ainda que eles não possam explicar tudo em palavras, podem exercitar esse conhecimento.

Isso não é tudo. A maneira como trabalhamos em várias organizações e grupos, os diversos comportamentos relacionados a princípios e regras, o know-how do nosso trabalho e as habilidades que adquirimos no decorrer do nosso trabalho são uma forma de conhecimento não expresso em palavras e, ao mesmo tempo, uma fonte de criatividade que sempre gera novas possibilidades.

Uma grande quantidade de conhecimento tácito também é a base das decisões e ações em várias encruzilhadas da vida.

E quando nos dizem que alguém próximo faleceu se tornou uma estrela, olhamos para o céu estrelado e sentimos que isso é verdade. Ou, mesmo sem esse motivo, quando olhamos para as estrelas no céu noturno, sentimos uma inexplicável sensação de nostalgia. Isso ocorre porque sabemos, além das palavras, que o universo é a nossa própria origem. Isso nada mais é do que um conhecimento importante relacionado ao alicerce das nossas vidas.

A chave está no “Outro Eu”

O primeiro passo necessário para revelar esse potencial humano é acreditar que albergamos um potencial além de nossa imaginação. Pense na figura do iceberg em sua mente.

E a chave para revelá-lo é o “Outro Eu” do nosso interior – a alma que vive em nosso âmago. Despertar e invocar esse “Outro Eu”, que contém sabedoria ilimitada, é, acima de tudo, um passo seguro para trazer à tona o nosso potencial latente.

Gostaria de aproveitar este mês como um momento para reconhecer o potencial de cada um de nós.

Notas do editor:

1. Nindo

As coisas raramente são conduzidas como desejamos, e a realidade está sempre repleta de provações e injustiças. “Utilizei a nomenclatura budista para descrever que este mundo é o Nindo, o fato de que este mundo não é o paraíso.” No ideograma japonês Nindo significa literalmente um lugar onde se vive com uma lâmina sobre a mente, um lugar onde temos que suportar. Viver no Nindo significa que devemos aceitar o que é doloroso e insuportável. (Extraído página 58 do livro A Razão Pela Qual Você Nasceu, versão original em japonês)