Bússola dos Tempos・240
Bússola dos Tempos・240
Ouvir o chamado
Keiko Takahashi
Fazer evoluir o “intercâmbio de energia interior-exterior”
Este mês de março é mais uma etapa marcante do ano. À medida que nos aproximamos do final do ano fiscal e letivo japonês, vamos pensar nos indícios de como poderíamos fazer para revelar ainda mais o potencial que temos.
O que repetimos com mais frequência no mundo da realidade é o “sentir”, “perceber”, “pensar” e “agir” em todas as situações: a passagem de fora para dentro e de dentro para fora, o intercâmbio de energia entre os mundos interior e exterior.
Poderíamos até dizer que nós, seres humanos, não fazemos outra coisa senão esse intercâmbio de energia de fora para dentro e de dentro para fora. Não seria exagero dizer que o ato de viver resume-se nesse “intercâmbio de energia interior-exterior”.
Em outras palavras, se pudéssemos aprimorar esse “intercâmbio de energia interior-exterior”, isso equivaleria a conseguir extrair o nosso próprio potencial.
O modo de vida de “ouvir o chamado”
Como podemos aprimorar o “intercâmbio de energia interior-exterior”? Uma das chaves está no modo de vida de “ouvir o chamado”1.
Realizamos o “intercâmbio de energia interior-exterior” em nosso dia a dia quando vivenciamos encontros e eventos. Independente de estarmos conscientes ou não, quando enfrentamos uma situação ou nos interagimos com fatos reais, repetimos o “sentir”, “perceber”, “pensar” e “agir”, fazendo circular o intercâmbio de energia de fora para dentro e de dentro para fora.
É importante entender durante todos esses momentos que os encontros, eventos e coisas que enfrentamos incluem várias facetas que não podem ser compreendidas a partir de uma visão meramente superficial.
Por exemplo, não é incomum que uma realidade que só era vista como fracasso ter se tornado o estímulo de um novo modo de viver antes impossível de se imaginar, ou uma experiência que só era vista como um sucesso ter se tornado a oportunidade de visualizar os problemas que estávamos tendo. O que estávamos vendo nesses exemplos era apenas uma possibilidade ou uma restrição.
Há muitas “camadas de significados”2 nas coisas e, à medida que vivemos nossas vidas, adentramos e retrocedemos nessas camadas, e ao experimentar significados profundos no decorrer desse processo, podemos maximizar a capacidade do “intercâmbio de energia interior-exterior”.
O Estudo da Alma nos instrui que a percepção da realidade se aprofunda à medida que a nossa mente evolui. Se percebemos as coisas apoiados nas “impressões”, só poderemos compreender a camada externa, ou a “superfície” da situação. Mas se abordarmos as coisas com nosso “genuíno sentimento”, poderemos tocar a “essência” da situação. Em seguida, se conseguirmos abordar as coisas com uma mente que conhece a “verdadeira missão individual” (jigo), poderemos compreender a “vontade divina” que se encontra numa camada ainda mais profunda da situação. O modo de vida de “ouvir o chamado” consiste em despertar o “genuíno sentimento” a partir das “impressões”, e ser convidado para aproximar-se da dimensão da “missão individual”, ou seja, caminhar a partir da “superfície” das coisas para a “essência” e entrar em contato com a “vontade divina”.
Ao questionar a si mesmo e refletir sobre o “chamado” das situações que enfrentamos, podemos evoluir o “intercâmbio de energia interior-exterior”.
Reflexões sobre o novo livro “O Outro Eu”
O livro “O Outro Eu: Despertando a alma dotada de sabedoria” foi escrito com a esperança de trazer à tona esse potencial latente.
Estamos hoje testemunhando a realidade de um mundo cada vez mais turbulento. O futuro é incerto, com várias dificuldades tanto em nível nacional quanto internacional. Apresento, neste novo livro, que a chave para extrair nosso maior potencial está em encontrar o “Outro Eu”. O “Outro Eu” é a nossa “alma” que vive mais profundamente dentro de nós, e é um termo que simboliza o potencial latente que nem sequer percebemos que temos.
Descobrir o “Outro Eu” e viver como alma equivalem à experiência e à realidade de descobrir o corpo principal de um iceberg escondido sob a superfície da água, embora sempre tenhamos pensado que éramos somente a ponta do iceberg visível acima da superfície. Quando percebemos que a maior parte do iceberg abaixo da superfície da água também somos nós e aprendemos a administrá-lo, somos inevitavelmente convidados a viver de forma diferente. Despertar o “Outro Eu” não seria o grande “chamado” que está chegando para cada um de nós neste momento?
Notas do editor:
1. Ouvir o chamado
Cada encontro ou acontecimento não nos ocorre “por acaso ou acidentalmente”. Eles chegam até nós por necessidade, por algum motivo e possuem um significado. Quando evocamos essa sensibilidade da alma e colocamos o centro de gravidade na alma, somos capazes de aceitar até mesmo situações aparentemente negativas, questionando: “Qual é o chamado que este encontro ou este acontecimento está me trazendo?” E assim, conseguimos dar um passo de um novo modo de vida indagando: “Qual seria a minha transformação necessária?” (Extraído do livro Reconquistando a Própria Vida)
2. Camadas de Significados
Se olharmos para as coisas e nos basear em “impressões”, só conseguiremos extrair significados “superficiais”, como bom ou ruim, perda ou ganho, valioso ou não. No entanto, à medida que aprofundamos o nosso estado mental – a nossa dimensão espiritual -, as realidades que seremos capazes de perceber também aumenta em profundidade. Se pudermos ir além das “impressões” e aceitar as coisas com o nosso “genuíno sentimento” (honshin), seremos capazes de ver a “essência” (hontai) das coisas. “Genuíno sentimento” (honshin) refere-se ao verdadeiro sentimento, a verdadeira aspiração que vem da dimensão da alma, que está além do discurso de fachada e das reais intenções. Quando em contato com esse sentimento, experimentamos algo como se um véu cobrindo o mundo estivesse sendo retirado. O mundo de até então se abre, e dali revela-se um novo mundo. A “essência” seriam os fatos tais quais eles são, não obscurecidos por suposições. Seria a realidade que se tornou una com o nosso verdadeiro sentimento e aspiração. E isso não seria tudo. Existe uma maneira ainda mais profunda de perceber as situações. Se pudermos abordar as coisas no nível da “missão individual” (algo que cada um de nós podemos empreender e assumir no fluxo da vida no contexto do universo), poderemos nos aproximar da “vontade divina” que nos foi confiada àquela situação. Ou seja, significa que seremos capazes de sentir ali o peso dos vários vínculos e antecedentes que não estão visíveis e de responder à missão a ser cumprida. (Extraído do livro Modo de Vida da Doutrina da Alma)