Nocoes Elementares do Estudo da Alma 157

Introduction to the Study of the Soul 157

A busca pelo Bodaishin III

Keiko Takahashi


Em meio a uma atmosfera adversa

No início da última edição, mencionei sobre as fragmentações que estão ocorrendo no mundo. E também observamos que o que supera o problema do espelho interno, o “espelho da mente”, a causa daquelas fragmentações, é o nosso Bodaishin11.

Desta vez, gostaria de considerar a necessidade da busca pelo nosso Bodaishin a partir de uma perspectiva diferente.

O mundo está no meio da pandemia da Covid-19, e com o surgimento da cepa ômicron, que se diz estar substituindo a variante delta, penso que muitas pessoas do Japão estão sentindo as nuvens negras pairando sobre nós, mais uma vez, justo agora que a propagação da infecção parecia estar começando a chegar ao fim.

Sob uma dimensão completamente diferente, os terremotos que estão ocorrendo na região de Kanto, no sopé do Monte Fuji e na península Kii, como se fossem concomitantes, fazem nos imaginar o possível terremoto com epicentro na capital, a erupção do Monte Fuji e o grande terremoto da depressão oceânica de Nankai, e fazem com que o ambiente do país fique ainda mais assustador.

E o que amplia ainda mais esse clima sinistro não seria o problema da ordem internacional que se encontra em um equilíbrio muito precário?

A humanidade passou por duas grandes guerras mundiais no passado, e com base na reflexão dessas experiências, estabeleceram uma organização chamada Nações Unidas para proibir estritamente quaisquer mudanças no status quo das fronteiras estabelecidas durante o final da guerra.

Entretanto, desde o final da Segunda Grande Guerra Mundial, dois países claramente mudaram, e continuam tentando mudar, o status quo territorial através das suas ações militares e políticas.

Esses dois países são a Russia e a China. Há um aumento no nível de tensão nos arredores desses dois países.

Tensões relacionadas à Rússia

Será que a invasão e a declaração de anexação da península da Crimeia pela Russia em 2014 ainda não está fresca na memória de muitas pessoas?

A Crimeia foi anexada pela Russia no século XVIII e tornou-se um importante centro militar estratégico e a principal base da Frota do Mar Negro, e no século XX pertenceu à Ucrânia que constituía a União Soviética.

Todavia, após a dissolução da União Soviética em 1991, a Ucrânia tornou-se independente. Com isso a Ucrânia aprofundou seus laços com a União Europeia. E quando foi observada sua inclinação de aderir à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no mesmo ano, com base nas mudanças políticas ocorridas e na intenção dos descendentes russos daquele país, o Presidente Vladimir Putin aproveitou a brecha para enviar seu exército e invadir a península da Crimeia, tornando a Crimeia uma república independente e, em seguida, anexando-a como território russo.

Esse mecanismo foi altamente condenado pela comunidade internacional e, por isso, sanções econômicas do Japão e dos países ocidentais foram impostas à Russia, mas sem levar isso em conta, hoje, mais uma vez, um grande número de tropas russas foi enviado nas fronteiras e existem receios crescentes de que possam lançar uma violenta invasão à Ucrânia.

A Ucrânia, por outro lado, começou a anunciar publicamente a intenção de retomar a Crimeia, aumentando ainda mais o grau de tensão.

Problemas associados à China

A China já expandiu para as Ilhas Spratly do Mar da China Meridional. Violando os direitos internacionais, construiu ilhas artificiais e bases militares, e tenta claramente mudar o status quo territorial e torná-lo um fato estabelecido.

E ao reivindicar sua soberania sobre Taiwan e as ilhas japonesas de Senkaku, está buscando a situação oportuna para apropriação.

É provável que não tome nenhuma atitude concreta até a conclusão bem sucedida dos Jogos Olímpicos de Inverno a serem sediados em seu próprio país em fevereiro deste ano, mas a situação está tão tensa que muitos estão incertos sobre o que ocorrerá após as olimpíadas.

Além disso, existem os problemas da Iniciativa do Cinturão e Rota da Seda promovida atualmente pelo governo Xi Jinping. Um dos problemas refere-se aos financiamentos concedidos com taxa de juros extremamente alta, e a situação frequente de fazer com que os devedores ofereçam concessões em troca, quando do atraso do reembolso da dívida.

Com esse mecanismo que podemos chamar de armadilha da dívida, temos visto sucessivas apropriações de portos entre outros estabelecimentos em países em desenvolvimento, e não seria exagero dizer que trata-se de uma nova maneira de alterar o status quo visando expandir efetivamente o mapa do poder do seu próprio país.

A China é originalmente um país autoritário unipartidário do Partido Comunista, e tem um problema fundamental de ter um sistema político distante da democracia. Longe do significado da palavra comunista, o país está se tornando uma nação em que o poder e a riqueza são usurpados pelos dirigentes do Partido Comunista.

Além da repressão étnica na região autônoma do Tibete que há muito tempo é considerado um problema, recentemente, foi constatada uma política que podemos chamar de genocídio (extermínio deliberado de grupo étnico) na região autônoma de Uigur do Sinquião, bem como campos de concentração, campos de esterilização de mulheres e meninas, e outras realidades tenebrosas que estão se tornando públicas.

Apesar de esses fatos serem condenados internacionalmente, ainda hoje, o país fortalece a política de assimilação cultural na região autônoma de Mongólia Interior restringindo o idioma entre outros.

Existem receios de que, se houver resistência, poderão reproduzir a política de repressão e genocídio.

Da mesma maneira, a liberdade e a democracia de Hong Kong, reconhecido como “um país, dois sistemas”, têm sido removidas rapidamente nos últimos anos.

Por um lado, existe o fato de que a China é atualmente o país membro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. É por isso que as pessoas pensam que é hora de repensar a função das Nações Unidas.

Um sistema autoritário zela, dentre a lista de prioridades, pela manutenção do sistema e pela proteção dos seus interesses como prioridade máxima. Igualmente, o Partido Comunista da China atual parece estar disposto a sacrificar não somente os direitos civis da sua população bem como o desenvolvimento econômico do seu próprio país com o intuito de proteger aquelas prioridades.

Recentemente, a China impôs várias restrições às empresas imobiliárias e de TI que se tornaram gigantescas domesticamente, ameaçando a gestão das mesmas, ou acionou grandes restrições à indústria de aulas particulares com o pretexto do aquecimento do sistema de cursos privados, e os mesmos servem de evidência dos interesses do Partido.

Em primeiro lugar, na China, uma empresa não alcança o sucesso sem o apoio do Partido Comunista. As empresas bem sucedidas são consideradas como aquelas que contribuem na mesma proporção ao Partido. Todavia, mesmo que essas empresas sejam bem sucedidas e tragam riquezas ao Partido Comunista, ao se tornarem gigantescas e passarem a incomodar ou se envolverem em conflitos políticos, logo serão pressionadas e fechadas. Não seria exagero dizer que isso se repete na China.

A ameaça a qual estamos expostos sendo vizinho de um país gigantesco que não disfarça a sua intenção de expandir territorialmente fazendo uso de métodos autoritários impensáveis em países democráticos – a dimensão dessa ameaça vem se tornado, objetivamente, uma questão que não podemos ignorar.

A mídia originalmente tem a missão de informar devidamente a sociedade sobre essa situação. Entretanto, em geral, o Japão, em comparação com os países ocidentais, desdenha o problema fundamental que a China tem e, não são poucas as vezes, tragam as informações apresentadas pela China, sem nenhum questionamento.

Nesse sentido também, precisamos coletar várias informações, e nos esforçar sempre para ter a verdadeira consciência da realidade2.

O Bodaishin confronta com a luz e as trevas

Como devemos assumir uma situação como essa? As questões tais como as de Taiwan ou de Senkaku definitivamente não se tratam de incêndios na margem oposta do rio.

Num mundo avançado como hoje, numa época em que formas democráticas de pensamento e procedimentos têm permeado internacionalmente, por que estas atrocidades estão sendo perpetradas impunemente? E isso continua a ser uma realidade que não pode ser evitada pela comunidade internacional. Para muitas pessoas com sentimentos sinceros, a situação não é nada menos que ameaçadora.

No entanto, gostaria que compreendesse que é isso que significa viver no Nindo. Essas contradições e limitações não se manifestam apenas na situação internacional mencionada anteriormente. Quando vivemos nesse mundo, essa realidade injusta pode ocorrer de várias maneiras. Nós, que promovemos o Bodaishin, não devemos fechar os olhos, independente das perversidades que possam existir.

Precisamos lembrar que o Bodaishin que buscamos significa trabalhar firmemente, sem sucumbir, mesmo diante de tanto disparate.

Isso porque o Bodaishin, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, através do sentimento de profunda oração, nos faz aproximar do fluxo da transformação da luz4 evocada pelo Princípio Orientador3.

É precisamente o Bodaishin que está sempre buscando o Projeto Ideal confiado ao Caos e é capaz de criar uma maneira de chegar lá.

Assim sendo, como isso seria possível?

Esta seção continua no próximo mês)

1. Bodaishin

Originalmente a palavra tem origem no Budismo que indica “Bodai, a mente que busca a iluminação”, mas no Estudo da Alma, o termo representa “a mente que busca o verdadeiro Eu, ama o próximo, e contribui para a harmonia do mundo”.

(Extraído e sintetizado da p.4 do livro “Os Doze Bodaishin”, versão original em japonês).

2. Nyojitsu Chiken (Verdadeira Consciência da Realidade)

Nyojitsu Chiken é um termo de origem Budista e refere-se à percepção da realidade tal como ela verdadeiramente é, ou, a verdadeira consciência da realidade.

3. Princípio Orientador

O Princípio Orientador é a força omnipresente no Universo que conserva todas as vidas, sustenta a tudo e revela a verdadeira natureza das existências para que a particularidade de cada um alcance a exuberância máxima. O Princípio Orientador continuamente norteia para que todas as existências harmonizem-se em direção ao desígnio do Universo, para que resistam às Lei de Desintegração e a Lei de Incontrolabilidade que atuam no nosso mundo. (Excerto do Glossário do Princípio Divino 2012)

4. Transformação das Trevas / Transformação da Luz

Transformação das Trevas significa transformar uma situação para uma realidade das trevas tais como dor, confusão, estagnação e destruição. Transformação da Luz significa transformar uma situação para uma realidade da luz, repleta de alegria, harmonia, atividade e criação.


(Extraído e sintetizado das p.156-158 do livro A Era em que Todos Vivem o Seu Melhor, versão original em japonês)