Nocoes Elementares do Estudo da Alma 160

Introduction to the Study of the Soul 160

A busca pelo Bodaishin VI

Keiko Takahashi


O niilismo vago

Dentro da tendência dos tempos, as formas materialistas de ver as coisas, pensar e viver se tornaram profundamente arrigadas em nós. Esse niilismo corrói nossas vidas sem termos consciência, e acabamos criando um niilismo vago. Obviamente, devido às dificuldades e as provações durante o decorrer das nossas vidas, há quem abrigue uma intensa descrença nas pessoas e no mundo.

“Se eu confiar nos outros, serei traído”, ” o mundo tirará de mim o que me é importante”.

São tais os pensamentos que essas pessoas inevitavelmente mantêm no fundo das suas mentes. No entanto, o “niilismo vago” mantido pela maioria das pessoas talvez não seja um sentimento tão acentuado. Pelo contrário, talvez estamos certos de que não albergamos o niilismo dentro de nós. Mas se pensarmos bem, carregamos uma sombra que só pode ser chamada de niilismo. Um niilismo impreciso. Podemos dizer que é uma sensação que nos impede de encarar o mundo de uma forma positiva no verdadeiro sentido da palavra.

Não conseguimos perceber o significado de ter nascido e estar vivendo nesse mundo de forma convincente. A menos que estejamos usando algo de valor ou sejamos reconhecidos pelos outros, não temos a certeza de que somos úteis ou de que somos uma existência significativa.

Não sentimos uma conexão sólida com as pessoas e com os eventos que acontecem em nossas vidas. A relação com as pessoas não são nem muito próximas nem muito distantes, e a realidade que deveria ter importância para nós, de certa forma, parece ser um assunto dos outros. Consumimos o tempo das nossas vidas influenciados pelos estímulos de prazer e de sofrimento e, de alguma forma, não somos capazes de realmente colocar nossos pensamentos e sentimentos nessas interações.

É como se o mundo tivesse sido separado por uma cortina, privando-nos do esplendor da realidade e intensificando as sombras.

Se estamos dominados por este tipo de sensação, não podemos responder às verdadeiras razões pelas quais nascemos, nem executar o Projeto Ideal1 que estamos destinados a criar no mundo.

Trilhando as etapas do aprofundamento do Bodaishin

Para os que abrigam o niilismo vago, a era do impensável, a realidade inacreditável é um trovejar repentino que nos sacode, podemos até dizer que é um golpe nas nossas mentes que estão acostumadas a uma rotina habitual.

Não importa qual realidade irrompa no mundo, e não importa o quanto o niilismo vago nos corrói, não temos escolha a não ser trabalhar para trazer à tona a luz que está armazenada dentro de nós seres humanos.

Para esse fim, devemos primeiro descortinar conscientemente nosso próprio Bodaishin.

O Bodaishin é a mente que busca o verdadeiro Eu, ama o próximo, e procura contribuir para a harmonia do mundo. Para nós, a base dessa jornada é o autoconhecimento profundo através da transformação do Ju-Hatsu-Shiki2, as funções da nossa mente.

É destino de nós seres humanos absorver o fluxo negativo do Nindo4, instigadas pelas Três Correntes de Influência3 no decorrer do nascimento e da criação. A luz das nossas almas é coberta pelo que flui dos nossos pais, da região e da indústria atuante, e da era. As variadas maneiras de ver as coisas, modos de pensar, valores e formas de viver adquiridas distorcem nossos ciclos de Ju-Hatsu-Shiki e reprimem nosso Bodaishin a nós inerente.

Entretanto, no fundo da nossa mente distorcida, o Bodaishin, a fonte de luz, encontra-se adormecido.

Através da transformação do Ju-Hatsu-Shiki, nos distanciamos dessas distorções gradualmente, e somos capazes de direcionar a luz da alma para as nossas mentes. E assim saberemos como realmente sentimos, o sentimento original e o que as nossas almas aspiram.

Para a jornada da transformação concreta do Ju-Hatsu-Shiki, o mapa Bonno5 nos serve de guia, e a Folha Shikan6 fornecerá pistas. Além disso, temos ainda numerosos relatos de prática que servem de modelo de prática para a transformação.

Como mencionado anteriormente, a transformação do Ju-Hatsu-Shiki é uma transformação consciente. Entretanto, à medida que damos continuidade nessa transformação, chegaremos ao momento em que o esforço e a ação conscientes serão esquecidos. Esse é o sinal de que a transformação foi realmente alcançada.

Além disso, existem exercícios que procuram extrair diretamente o Bodaishin do nosso interior.

O Estudo da Alma concentra-se principalmente nos Doze Bodaishin7 que se justapõem às imagens da natureza. O Cartão do Princípio Divino9 entregue aos participantes no Encontro de Ano Novo8 também contém um dos Doze Bodaishin.

Muitos membros da GLA estabelecem o Bodaishin inscrito no Cartão do Princípio Divino como o Bodaishin a ser seguido durante o ano através da Prática de Transcrição10 e oração11. Muitos fazem novas descobertas ao dedicarem esforços na Prática de Transcrição, e ao enfrentarem com o Bodaishin os encontros e eventos que se sucedem todos os dias. Ao darem continuidade à Prática de Transcrição das palavras do Bodaishin durante mil dias, não são poucos que vivenciam que a dimensão se transforma num determinado momento, e experimentam o despertar do Bodaishin.

Além disso, o Bodaishin também encoraja algumas Práticas Continuadas ou novas ações. Por exemplo, o Bodaishin do “Coração de Lua”13 encoraja a prática de “caridade anônima“14 e de identificar a luz nos outros. No início, fazemos um esforço consciente e gradualmente passamos a focar mais nos atos altruístas e no esplendor da existência dos outros.

Contudo, mesmo esse esforço consciente acabará por encontrar mudanças e avanços. A um certo momento, perceberemos que estamos agindo daquela forma inconscientemente.

Trazer o Bodaishin à tona, viver o espírito do Bodaishin “de forma inconsciente” é muito importante. Porque, para nós, isso significa que a verdadeira natureza que temos do Buda, o Bodaishin, que pode também ser chamado de natureza divina, passará a transbordar por si só.

Bodaishin inconsciente

Existe a figura do “tolo inocente” que foi reverenciado ao longo da história.

O cristianismo veio sempre prezando a pureza e a inocência como de uma pequena criança. Isto pode ser porque a imagem da confiança pura das crianças nos seus pais se sobrepõe à fé inocente dos mesmos sobre a existência de Deus, antes que o ego dos mesmos ainda não tenha se desenvolvido.

Em Parsifal, o drama do festival sagrado, concebido pelo músico Richard Wagner (1813-1883) em seus últimos anos de vida, há uma passagem em que só um “tolo inocente” pode curar o rei Amfortas, que foi profundamente ferido por um mago. O seu protagonista, Parsifal, é retratado como um “tolo inocente” que, de fato não é nem sábio, nem corajoso, mas porta a luz da pureza e da inocência.

Além disso, o monge Ryokan (1758-1831) que tem sido popular entre muitas pessoas, deixou várias anedotas, umas das quais relacionadas com a sua inocência infantil. Certo dia quando estava brincando de esconde-esconde com as crianças da aldeia: ninguém conseguiu encontrá-lo, o sol se pôs e a noite caiu, e na manhã seguinte, quando os moradores da aldeia o encontraram, dizem que Ryokan disse “Shh! Não posso ser visto”. É uma anedota que transmite a inocência infantil que o Ryokan tinha.

As escrituras budistas dizem que Cula-Panthaka (Shuri Handoku) era um dos discípulos de Buda, e que o mesmo não conseguia memorizar um verso da doutrina, por isso chorava e lamentava sua própria tolice por não conseguir avançar como os outros discípulos. Ao Panthaka, Buda deu-lhe um pedaço de pano e lhe disse: “Olha Panthaka! Não fiques triste. A partir de agora, passe a utilizar este pedaço de pano para limpar a sujeira do calçado de todos. Continue a limpar entoando ‘livrar-me-ei da poeira, livrar-me-ei da sujeira’”.

Seguindo as palavras do Buda, Panthaka continuou a limpar o calçado dos discípulos, dia após dia, inocentemente, entoando “livrar-me-ei da poeira, livrar-me-ei da sujeira”. E nessa caminhada imutável, percebeu que as impurezas que precisavam ser removidas eram as impurezas da sua mente, ou seja, a avareza, a ira, e a ignorância, e tornou-se um Arhat, que manifesta o poder divino.

Panthaka é uma pessoa que foi desprezada pela comunidade como um tolo. Mas por causa disso, a luz da pureza e da inocência, que não está presente naqueles que tem a mente afiada, desabrochou e passou a inundar no interior do Panthaka pela inocente prática.

Se pensarmos bem, alguns dos personagens com as quais muitas pessoas têm familiaridade estão claramente baseados no “tolo inocente”. Foi provavelmente pela mesma razão que Tora-san, o protagonista que triunfou na série cinematográfica É difícil ser homem, e o “santo tolo” interpretado pelo comediante Hiromi Fujiyama, que sobressaiu na região de Kansai, se tornaram tão populares.

Julgamentos de bom senso e ações são importantes, mas são atos conscientes. Em certo sentido, é algo que nós, seres humanos, criamos.

Mas, se continuarmos a gerar essa luz consciente, em dado momento, a luz inconsciente, um Bodaishin inconsciente pode se manifestar quando menos se espera.

Quando a luz inconsciente se transbordar, estaremos verdadeiramente convencidos sobre o Bodaishin dentro de nós, e poderemos vivenciar o seu esplendor.

O caminho da busca do Bodaishin que nós objetivamos é essa etapa “espontânea”, o Bodaishin inconsciente

(Desfecho desta seção)

Esta seção continua no próximo mês

1. Projeto Ideal

O termo japonês aojashin, que significa “cópia azul” em português, refere-se, originalmente, a diagramas e desenhos que indicam esboços para construção de uma edificação, uma máquina etc. A partir daí, aojashin passou a se referir a projetos de todas as naturezas. Seria a realidade que buscamos realizar e aspiramos alcançar. No Estudo da Alma, o termo inclui também o significado de Ideia (forma ideal) oculta em todas as coisas, e da promessa feita com a Grande Existência, Deus. (Extraído do livro A Trajetória Áurea, capítulo 3)

2. Ju-Hatsu-Shiki

Ju (recepção) significa a perceber os acontecimentos que surgem ao nosso redor (mundo exterior) em nosso interior, e o Hatsu (reação) é a interação do nosso mundo interior com o mundo exterior em relação ao que foi percebido. Shiki é o termo budista que significa a realidade que o nosso olho físico enxerga no mundo exterior e inclui as pessoas, os acontecimentos e as circunstâncias. O ser humano, enquanto vivo neste mundo, continua acionando esta triangulação do Ju-Hatsu-Shiki incessantemente, e vai criando as realidades a sua volta mesmo que inconscientemente. (Extraído do Glossário do Princípio Divino 2012, disponível somente em japonês)

3. Três Correntes de Influência

Onde quer que nos encontremos, seja na comunidade, no local de trabalho ou no setor profissional, existem pressupostos, senso comum, valores e modos de vida tácitos. Ao viver nesse ambiente, essa atmosfera será absorvida profundamente de forma gradual e inconsciente. Vim denominando como as Três Correntes de Influência (linhagem, lugar e era) visto que os mesmos fluem na vida de todos os seres humanos. A corrente da linhagem refere-se aos valores e modos de vida que fluem dos pais e dos membros da família. A corrente do lugar trata dos costumes e pressupostos disseminados pela comunidade e pelo setor profissional. E a corrente da era concerne ao conhecimento e os valores que afluem da época e da sociedade. (Extraído do livro Como Fazer Da Sua Vida A Melhor, página 76, versão original em japonês)

4. Nindo

As coisas raramente são conduzidas como desejamos, e a realidade está sempre repleta de provações e injustiças. “Utilizei a nomenclatura budista para descrever que este mundo é o Nindo, o fato de que este mundo não é o paraíso.” No ideograma japonês Nindo significa literalmente um lugar onde se vive com uma lâmina no coração, um lugar onde temos que suportar. Viver no Nindo significa que devemos aceitar as dificuldades e o que é insuportável. (Extraído página 58 do livro A Razão Pela Qual Você Nasceu, versão original em japonês)

5. Mapa de Bonno

Bonno é um termo de origem budista e refere-se a todas as ilusões que aborrecem e perturbam a mente e o corpo do ser humano. No Mapa de Bonno, o Bonno está subdividido em quatro tipos cujas tendências conduzem as nossas vidas em direção às trevas. Os quatro Bonno referem-se à ira e insatisfação do ser humano e são representados pela tendência do Bonno do Prazer-Sofrimento (vítima ressentida), a preguiça do ser humano e a dependência cega aos outros simbolizados pela tendência do Bonno do Prazer-Apatia (feliz autocomplacente), pelo medo e sentimento negativo representados pela tendência do Bonno do Sofrimento-Apatia (autodepreciador), e pela ambição e o domínio em relação aos outros, simbolizados pela tendência do Bonno do Prazer-Temeridade (demasiado autoconfiante). (Extraído e sintetizado das p.105-107 do O Livro Que Resolve A Equação Da Vida, versão original em japonês)

6. Folha Shikan

A Folha Shikan concebida pela Takahashi-Sensei trata-se de um exercício em que os movimentos da mente são capturados em cada momento da forma como realmente são, e ao visualizar as trevas que se camuflam nesse mecanismo, purificamos as nossas mentes com as orações do O Caminho da Oração.

7. Doze Bodaishin

No Estudo da Alma, Bodaishin é definido como “a mente que busca o verdadeiro Eu, ama o próximo, e contribui para a harmonia no mundo”. Não é possível expressar em palavras toda a essência do Bodaishin, mas a sua vibração e iluminação podem ser expressas como os Doze Bodaishin conforme a seguir: Coração de Lua, Coração do Fogo, Coração do Céu, Coração de Montanha, Coração de Espiga de Arroz, Coração de Fonte, Coração do Rio, Coração da Terra, Coração de Kannon, Coração do Vento, Coração do Mar, Coração do Sol. Podemos dizer que esses Doze Bodaishin capturam a natureza da luz que está onipresente no universo e na natureza a partir desses doze aspectos. (Excerto extraído e sintetizado do livro Os Doze Bodaishin, versão original em japonês)

8. Encontro de Ano Novo

No encontro realizado em janeiro, todos os anos, a Takahashi Sensei ministra uma palestra oferecendo diretrizes para o novo ano que se inicia. Nessa ocasião os participantes recebem o “Cartão do Princípio Divino”. Este encontro é um dos seis encontros sagrados no decorrer de um ano que a GLA preza.

9. Cartão do Princípio Divino

Cada cartão está preenchido pela alma e espírito da Takahashi Sensei e contém as palavras de um dos Doze Bodaishin (a mente que busca o verdadeiro Eu, ama o próximo e contribui para a harmonia do mundo). É entregue a cada um dos participantes do Encontro de Ano Novo, no início do ano, e serve como um importante guia para orientar o progresso dos mesmos no ano que se inicia.

10. Prática de Transcrição

Trata-se de uma prática na qual as palavras da Takahashi Sensei (palavras do Princípio Divino) contidas, por exemplo, em seus livros, são transcritas manualmente, e profundamente examinadas e incorporadas em nossas mentes. Esta atividade nos permite descobrir ou passar a compreender mais profundamente o significado das palavras que não percebemos quando lemos silenciosamente. Ao transcrever, as palavras do Princípio Divino podem ser gravadas no fundo das nossas mentes. (Extraído e sintetizado da página 42 do trecho Bem-vindos à GLA: Aos novos membros associados)

11. Oração

A oração é um diálogo que une o nosso próprio coração ao coração de Deus, e ao mesmo tempo, registra um modo de pensar e de ver baseado no Princípio Divino, ao invés da própria visão e modo de pensar, bem como fomenta o treinamento da mente em direção a uma nova programação de pensamentos e ações. (Excerto extraído e sintetizado da página 3, das Dicas para a Prática de Transcrição, versão original em japonês)

12. Prática Continuada

Para poder mudar concretamente os pensamentos e as ações, a prática continuada visa criar novos hábitos e formas de viver baseados no Estudo da Alma. (Excerto extraído e sintetizado da página 63 das Perguntas e Respostas dedicadas aos novos membros associados na edição Mensal do G. de setembro de 2021.)

13. Coração de Lua

Um dos Doze Bodaishin. O Coração de Lua é o Bodaishin de caridade secreta, capaz de apoiar, discretamente, o próximo. (Extraído e sintetizado da página 492 do livro O Caminho da Oração, Para o Supremo Diálogo)

14. Prática de caridade secreta

É importante envolver-se gradualmente em exercícios da mente (aprimoramento) da caridade secreta, onde as boas ações são realizadas sem serem notadas por terceiros. No começo, uma vez por dia, tente fazer algo por alguém nos bastidores para alguém que não seja você mesmo, por exemplo, para os membros da família ou para os colegas do trabalho. (Extraído e sintetizado da página 28 do livro Doze Bodaishin, versão original em japonês)