Bússola dos Tempos・226

Bússola dos Tempos・226

Recuperar a convicção

Keiko Takahashi


Viver em tempos de incertezas

Embora a Covid-19 já tenha se tornado uma doença de significância similar à influenza para a maioria das pessoas, exceto os idosos, a doença ainda é um fator desestabilizador no comportamento da população mundial. Além disso, a invasão russa da Ucrânia prolonga-se e a situação chegou a um impasse.

Uma diretriz para sobreviver em tempos tão incertos e indecifráveis é recuperar o reduto perdido.

Na base do nosso modo de vida existe algum tipo de convicção e apoio. Podemos avançar porque acreditamos em algo, mesmo que não estejamos conscientes disso.

Por exemplo, as pessoas que abraçam uma visão materialista do mundo e só acreditam em coisas visíveis, como objetos e números tangíveis, muitas vezes acreditam em status social visível e no poder de quantias pecuniárias. Há também aqueles que acreditam acima de tudo em conexões com pessoas valiosas – conexões interpessoais.

Acreditar é valorizar. Vivemos o nosso dia-a-dia através do modo de vida baseado nesses valores.

A razão pela qual menciono isso é porque me parece que perdemos as convicções sobre as quais nossas vidas deveriam verdadeiramente estar baseadas na sociedade moderna. E acredito que essa tendência foi ainda mais ampliada com a pandemia da Covid-19 dos últimos três anos.

Recuperar o reduto perdido

Quais são as convicções que perdemos?

Em primeiro lugar, existe a Grande Existência, o “Ser Supremo” que tem sido um grande alicerce espiritual dos seres humanos desde os tempos antigos.

Como mencionado anteriormente, durante o século XX, era da ciência e tecnologia, muitas pessoas passaram a acreditar que a ciência é a única coisa digna de confiança. De fato, nós, seres humanos, tornamos muitas coisas possíveis por meio da ciência e tecnologia.

Por exemplo, a ciência tem contribuído significativamente para aliviar os padecimentos da pobreza, doenças e guerras que afligiam a humanidade. Alguns países ainda têm problemas de fome, mas considerando o mundo como um todo, a produção de alimentos aumentou drasticamente no último século, o número de pessoas que podemos alimentar aumentou, e o crescimento da riqueza econômica mitigou muitos dos problemas da “pobreza”.

Quanto à “doença”, embora ainda existam algumas doenças incuráveis ​​para as quais as causas ou as curas são desconhecidas, muitas delas não são mais apavoradoras. Diz-se que a maioria dos cânceres, antes considerada mortal, agora é considerada curável.

Em termos de “guerra”, a agressão imprudente da Rússia contra a Ucrânia ampliou a sensação de mal-estar no mundo, mas também é fato que as guerras de escala mundial que continuavam a ocorrer até então havia desvanecido.

Em suma, é certo que ao longo do século da ciência, a humanidade veio resolvendo muitos problemas.

Assim, as pessoas desenvolveram uma imensa confiança na ciência e passaram a ser devotas dela. Não podemos, então, afirmar que, em troca, esquecemos, em algum lugar, do alicerce outrora inabalavel de um “Ser Supremo” que transcende a nós mesmos e a todos os homens? Com a ciência em mãos, o ser humano tornou-se um deus onipotente, esquecendo-se do medo e perdendo de vista o “Ser Supremo” que o transcende.

E à medida que a visão científica da humanidade e do mundo permeou o pensamento, perdemos de vista a “dimensão da eternidade” que trazemos conosco. Isso significa que, como existência de uma alma que abraça a vida eterna, perdemos de vista a “dimensão da eternidade” que todos nós trazemos no interior.

Não apenas isso. Ao ter uma visão materialista do homem e perder de vista sua “dimensão da eternidade” também perdemos inevitavelmente de vista o cerne pelo qual nossas vidas estão equipadas – “o propósito da vida”.

Para nós, o “Ser Supremo”, a “Dimensão da Eternidade” e o “Propósito de Vida” são nada menos que as coisas mais plenas, mais constantes e mais valiosas. Nós, que vivemos em uma era de incertezas, desordem e mudanças, construímos nossas vidas e nosso mundo baseado naquilo que é mais pleno, constante e valioso. Isso é justamente o que nos concede forças para sobreviver a estes tempos incertos.