Bússola dos Tempos・260
Bússola dos Tempos・260
Dar o máximo de si
Keiko Takahashi
Uma vida envolta pelo “mesmo de sempre'”
Agora que os sinais do outono se intensificam, como você tem vivido seus dias? O outono é uma estação que nos convida a refletir sobre nós mesmos bem como sobre a nossa vida… É um tempo em que somos levados do plano da realidade para o plano da mente e, ainda mais profundamente, até a dimensão da alma, onde a vida encontra seu verdadeiro sentido.
Que neste mês você possa reservar um momento para observar a própria maneira de viver, trazendo em mente essa imagem de aprofundamento da vida.
Grande parte da nossa realidade é construída pelas repetições diárias.
A manhã chega, o sol nasce, e o mundo desperta. Mais tarde, o sol se põe, a noite cai, e tudo se recolhe no silêncio… Esse ritmo diário permanece, seguindo o movimento de rotação da Terra.
Da mesma forma, o ciclo das estações, a primavera do florescer da vida, o verão do crescimento, o outono da colheita, e o inverno da quietude se repete sem mudança, guiado pela translação da Terra.
Assim, a nossa vida ganha forma dentro desses ciclos, nos dias e anos que se passam.
E à medida que vivemos essas repetições, começamos a sentir que cada dia, cada ano, é apenas “o mesmo de sempre”.
E, inevitavelmente, será que muitos de nós não acabamos pensando que “a vida vai continuar assim do mesmo modo que tem sido até agora”? A nossa vida, de fato, acaba ficando envolta na “repetição”, numa realidade que é “o mesmo de sempre”.
Quando a alma se move
No entanto, por mais que nossa vida seja moldada pela repetição, isso não significa que ela termine assim. Porque, às vezes, surgem acontecimentos que não podem ser chamados de repetição.
Quando estamos imersos no cotidiano repetitivo, nossa vida parece uma sequência mecânica de quadros de um filme. Não há aí nenhum movimento profundo da mente, e acabamos apenas com as simples reações de prazer e sofrimento.
No entanto, quando surgem grandes encruzilhadas que podem mudar o rumo da vida, ou quando nos deparamos com provações quase insuportáveis, encontros marcantes ou alegrias inesquecíveis, a nossa mente começa a se mover intensamente. Sensações, emoções, pensamentos e vontades, diferentes do “mesmo de sempre” começam, de fato, a se pôr em movimento dentro de nós.
E quando, além disso, perguntamos a nós mesmos “Que significado existe neste encontro ou neste acontecimento? Qual é o chamado a mim dirigido?”, então a alma, que vive no âmago do nosso ser, começa a se mover.
O “momento em que a alma se move” é aquilo que verdadeiramente devemos buscar. Pois há coisas que só podem ser realizadas quando a alma se move.
Somente quando a alma se move é que conseguimos finalmente encarar o propósito e a missão que somos chamados a cumprir em nossa própria vida e então responder a eles.
Dar o máximo de si
Então, o que cria esse “momento em que a alma se move”? Como podemos nos conduzir até esse instante?
Acredito que, para isso, há uma forma de viver da qual não podemos abrir mão, que é a de “dar o máximo de si”.
Todos nós vivemos com diversos tipos de limites.
Muitas pessoas, ao longo da vida, já devem ter sentido na própria pele que suas capacidades e talentos são limitados. Mas é justamente por isso que se torna tão importante usar ao máximo a força que temos.
Doar-se por completo em cada tarefa e em cada responsabilidade, e também nos encontros e relacionamentos, entregar-se de corpo e alma e dar o melhor de si.
Dar o máximo de si não se limita ao momento da ação. O tempo de preparação e também o tempo após o término são igualmente importantes, é preciso fazer tudo que estiver ao nosso alcance e continuar buscando o Projeto Ideal1.
E, quando continuamos a investir nossa energia dessa maneira, deixamos de ser movidos apenas por estímulos ou impactos que vêm de fora; tornamo-nos capazes de mover a própria alma com as forças que estão dentro de nós.
Passamos então a mover a alma por nossa própria vontade, tornando-nos capazes de criar o momento de responder ao compromisso da nossa vida.
Notas do editor
1. Projeto Ideal
O termo japonês aojashin, que significa “cópia azul” em português, refere-se, originalmente, a diagramas e desenhos que indicam esboços para construção de uma edificação, uma máquina, etc. A partir daí, aojashin passou a se referir a projetos de todas as naturezas. Seria a realidade que buscamos realizar e aspiramos alcançar. No Estudo da Alma, o termo inclui também o significado de Ideia (forma ideal) oculta em todas as coisas, e da promessa feita com a Grande Existência, Deus. (Extraído do livro A Trajetória Áurea)