Bússola dos Tempos・255

Bússola dos Tempos・255

Acreditar em si mesmo

Keiko Takahashi


Uma era em que se exige a prova de ser você mesmo

Você consegue sentir, de forma real e concreta, o quanto os tempos estão sempre mudando?

No passado, o modo de vida das pessoas era transmitido de pais para filhos. Por exemplo, até o período Edo no Japão, era natural que o filho de um agricultor se tornasse agricultor, o de um artesão se tornasse artesão, o de um comerciante se tornasse comerciante, e o de um samurai se tornasse samurai ou se casasse com uma família de samurais. Basicamente, não havia outras alternativas.

No entanto, com o colapso desse sistema de classes, as pessoas passaram a ter a possibilidade de escolher o modo de vida que desejam. Agora, podem decidir onde morar, que profissão seguir, à sua própria vontade.

Em termos de qualidade de vida, isso representa uma evolução extraordinária. Afinal, cada pessoa pode imaginar o próprio futuro e viver em direção às suas aspirações.

No entanto, isso também significa que agora precisamos construir nossas próprias vidas. Ao contrário do que acontecia no passado, quando você nascia com uma trajetória de vida predeterminada, agora você precisa escolher sua própria trajetória de vida e deixar uma marca na vida como indivíduo.

No passado, a vida de uma pessoa dificilmente era notada ou recebia atenção, a menos que tivesse uma posição ou status especial.

Por isso mesmo, viver numa era em que cada um escolhe o próprio caminho significa, em outro sentido, enfrentar um grande obstáculo. Isso ocorre porque todos sentem implicitamente que precisam provar quem são, ou seja, demonstrar a própria identidade.

A era da comparação e da competição

Ao sairmos da infância, logo entrarmos na fase escolar, e passamos a viver em grupos.  

No Japão especialmente, há uma forte tendência a nos preocuparmos com a forma como somos vistos pelos outros. A maneira como somos percebidos socialmente tem grande impacto no nosso modo de viver.

Para afirmar a identidade nesse ambiente, sentimos necessário mostrar alguma característica única, muitas vezes, uma qualidade que se destaque. Seja a beleza superior aos outros ao seu redor, boas notas, habilidades esportivas, acabamos buscando provar quem somos através de algo que nos diferencie.

Naturalmente, vamos nos comparar com os outros. Em todos os aspectos, passamos a comparar como somos em relação aos outros. Se nos sentimos superiores, ganhamos confiança. Se nos sentimos inferiores, perdemos a autoconfiança. Nós nos sentiremos superiores ou inferiores, e os altos e baixos de nossos sentimentos, sem dúvida, lançarão uma grande sombra sobre nosso modo de vida diário.

Nesse tipo de ambiente, torna-se difícil acreditar verdadeiramente em si mesmo ou ter uma autoconfiança genuína.

Acreditar verdadeiramente em si mesmo – ter a verdadeira autoconfiança

Então, o que significa, de fato, acreditar em si mesmo? O que é a verdadeira autoconfiança?

Como muitos já devem ter percebido, não é por sermos melhores em algo do que os outros que ganhamos confiança. Se fosse assim, só poderíamos ter autoconfiança se fôssemos superiores a todos. Também não é porque recebemos o reconhecimento dos outros que vamos acreditar em nós mesmos. Se fosse esse o caso, acreditar em nós mesmos não dependeria de nós, mas dos outros.

Cada um de nós é uma existência única e insubstituível. Como seres de alma, todos passamos por inúmeras experiências de vida até chegar à nossa existência atual.

Mesmo considerando apenas esta vida presente, e os encontros e acontecimentos que dela surgiram, não existe uma pessoa que tenha passado exatamente pelas mesmas experiências. As luzes e sombras que atravessam a nossa vida, e as trajetórias que dali emergem são todas singulares, e não é igual para ninguém. Somos todos singulares, existências únicas na intersecção dos laços que conectam todas as coisas do universo, e mergulhamos nesta vida movidos por uma aspiração a cumprir.

Mesmo que tenhamos falhas ou fraquezas, não existe ninguém que possa substituir você, nem que possa realizar o trabalho que você veio desempenhar.

É justamente este fato que constitui o motivo pelo qual devemos acreditar em nós mesmos e é o alicerce sobre o qual devemos construir a nossa verdadeira confiança. Neste mês, convido você a refletir profundamente sobre o que significa acreditar em si mesmo e sobre o que é, de verdade, a autoconfiança.